Texto retirado na íntegra do Forza Palestra.
Prezada delegada e prezado diretor do DHPP,
Eu pago o salário de vocês e, em sendo assim, sinto-me no direito de avaliar a qualidade do trabalho que vocês entregam para a sociedade. Nada pessoal, ok? É que vocês são funcionários públicos e devem satisfação à população. Em sendo assim, deixo para um amigo advogado, o Luiz Romani, a tarefa de comentar cada uma das respostas concedidas na entrevista de hoje:
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Íntegra da entrevista coletiva com Dra. Margareth Barreto, delegada, e Jorge Carlos Carrasco, diretor do DHPP:
-Quem são os cinco detidos?
Jorge: Torcedores, todos da Mancha Alviverde que estão envolvidos no confronto. Outras prisões ainda estão se encaminhando.
Ok, todo aquele que, comprovadamente, praticou um crime, deve ser punido. A Lei vale para todos. Não sabemos quais as acusações, mas, considerando a gravidade dos delitos – dois homicídios -, é de se estranhar que a polícia tenha dado prioridade em prender aqueles que tiveram um ente querido baleado ao invés do atirador.
-Algum deles é suspeito de ter efetuado o disparo?
Jorge: Tem um deles que estava portando arma de fogo. Há testemunhas. Também foi preso. As investigações prosseguem. São vários crimes.
Margareth: A informação é de que tem alguém armado, não sabemos quem desferiu o tiro. Na hora do confronto pode ser. A gente prossegue. Arma de fogo, não tinha o calibre pois não foram apreendias armas.
Eis aqui uma demonstração de como a polícia está completamente perdida. Abro aspas para o delegado: “um deles estava portando arma de fogo”. No entanto, a delegada diz que: “Arma de fogo, não tinha o calibre pois não foram apreendidas”. Ora, estava ou não estava portando arma de fogo? Como se afirma algo dessa proporção sem que uma única arma tenha sido apreendida? Não vou entrar no mérito se o cara estava ou não armado, mas o delegado em hipótese alguma poderia afirmar que um deles estava portando arma sendo que nada foi apreendido! Também não vou entrar no mérito da qualidade das testemunhas que, ao invés de se esconderem de uma confusão generalizada, ficaram marcando o rosto de quem estava ou não armado.
Ora, eles não sabem quem desferiu o tiro? Vamos às contas: quantos corintianos foram baleados? 0. E quantos palmeirenses? 3 ou 4. Ah... essa é fácil, palmeirenses estavam atirando em palmeirenses. Bom, para cair no papo da delegada vamos acreditar que um palmeirense armado, tentando acertar corintianos, se confundiu com as cores da camisa e errou os 4 tiros.
-Como punir? Adianta tirar a camisa das torcidas no estádio?
Jorge: Estamos preparando um trabalho nesse sentido para identificação de todas as torcidas. Temos que catalogar esse pessoal que frequenta estádios. Vamos coibir. Estamos conversando junto à Federação Paulista de Futebol, Polícia Militar e o Ministério Público. Com certeza traremos algo novo que mantenha o controle. Algumas investigações estão em curso.
Essa resposta é de um preconceito escancarado, além disso, trata-se de mais uma ladainha, a famosa história da carochinha, cujo o resultado vai ser nulo. “Estamos preparando um trabalho nesse sentido para identificação de todas as torcidas. Temos que catalogar esse pessoal que frequenta estádios. Vamos coibir”.
Essa resposta é de um preconceito escancarado, além disso, trata-se de mais uma ladainha, a famosa história da carochinha, cujo o resultado vai ser nulo. “Estamos preparando um trabalho nesse sentido para identificação de todas as torcidas. Temos que catalogar esse pessoal que frequenta estádios. Vamos coibir”.
1- as torcidas já estão identificadas; 2- não somos gado para ser catalogados; 3- coibir o quê? Vocês têm é que trabalhar e começar a entender o que significa ser torcedor. Como se sabe: violência gera violência.
Agora, se eu, que sou uma pessoa de bem, idônea e sem qualquer problema com a polícia, me recusarei a ser catalogado, imaginem se alguém com problemas vai se sujeitar ao cadastro... Felizmente, a Constituição Federal nos protege de ideias como essa do delegado.
-Há um corintiano também?.
Jorge: Foi preso, mas não é de mandado. Ele estava lá na Gaviões. São cinco presos com mandado e mais esse portando maconha.
Margareth: Alguns indivíduos fugiram do estado de SP, mas já sabemos quem são. O pessoal da Mancha também assumiu o risco da emboscada acontecer. Mesmo assim, com a indicação de saírem a pé, não pediram escolta. Se arriscaram. Por isso ressalto que não há mocinhos. Geralmente tem gente que faz escolta da torcida. Temos a informação de que não havia uma arma só. Não era só um integrante da torcida armado da Mancha.
Margareth: Alguns indivíduos fugiram do estado de SP, mas já sabemos quem são. O pessoal da Mancha também assumiu o risco da emboscada acontecer. Mesmo assim, com a indicação de saírem a pé, não pediram escolta. Se arriscaram. Por isso ressalto que não há mocinhos. Geralmente tem gente que faz escolta da torcida. Temos a informação de que não havia uma arma só. Não era só um integrante da torcida armado da Mancha.
Ok, cinco mandados de prisão para aqueles que foram baleados, já falei sobre isso.
Vamos à resposta da Dra. Margareth: “O pessoal da Mancha também assumiu o risco da emboscada acontecer. Mesmo assim, com a indicação de saírem a pé, não pediram escolta. Se arriscaram.”
1- Gostaria de entender como se assume o risco de ser vítima de uma emboscada, juro que isso não entra na minha cabeça; 2- O PM alegou que estava acompanhando o pessoal da Mancha. Estava escoltando um pessoal cheio de armas e barras de ferro? Difícil crer... 3- Se o pessoal da Mancha estava armado, por que nenhum corintiano foi baleado?
-O que será feito com os computadores?
Jorge: Os computadores estão sendo analisados agora na delegacia.
(...)
-E as armas?
Margareth: As investigações prosseguem. Vamos tentar apreender.
Temos palmeirenses presos por porte de arma, mas nenhuma arma foi apreendida. Estranho demais... não é minha área, mas acho que um Habeas Corpus cairia bem.
-Qual a maior dificuldade na operação?
Margareth: Existe um pacto de silêncio entre as torcidas. Não falam com a Polícia. Por isso precisamos trabalhar imagens. Eles geralmente cobram as broncas na rua. Não tem nenhum compromisso com o poder estabelecido. Eles sabem quem matou, mas muita gente não quer colaborar. Não digo que todos os organizados são pessoas que cometem crimes. Existe uma cúpula que se reúne para brigar e cometer crimes.
(...)
-São sempre os mesmos envolvidos?
Jorge: Quem dirige uma torcida sabe o que ocorre dentro do seu âmbito. Nem o confronto eles desconheciam. Eles sabem sim, serão responsabilizados. Ainda não foram ouvidos.
Nem a polícia desconhecia, eu não desconhecia, todo mundo com o mínimo de vivência não desconhecia. Aliás, até o padeiro da padaria da esquina aqui de casa sabia que na Inajar de Souza poderia ter encrenca. A questão é: a polícia será responsabilizada?
-Alguma resolução do crime de 2011, quando um corintiano foi achado no Rio Tietê?
Jorge: Pelo pacto do silêncio, estabelecemos a autoria. A motivação do confronto foi uma retaliação por aquela morte. A morte de 2011 ainda não tem autoria.
(...)
-Por onde investigam? Tem testemunhas?
Jorge: Uma análise de algumas imagens.
Mas não havia testemunhas que viram os torcedores do Palmeiras com armas de fogo?
-Utilizaram rojões, ferros e paus. Dá para controlar isso?
Jorge: Na sexta-feira foram comprados uma quantidade excessiva de rojões. Me permito não dizer quem foram, mas já identificamos.
Mais uma ideia para coibir a violência: vamos proibir a comercialização de rojões.
-Outras torcidas serão envolvidas na investigação?
Jorge: Todas serão investigadas. Não é só Corinthians e Palmeiras, tem outras torcidas e já tivemos outros confrontos.
Nem a torcida do SCCP está sendo devidamente investigada... as outras podem ficar tranquilas.
-Existe algum galpão da Gaviões na avenida Inajar de Souza?
Jorge: Estamos investigando.
(...)
-Estes foragidos estavam na briga?
Jorge: Não digo foragidos, alguns que participaram do confronto que nós já temos a identificação já saíram de SP. Não estavam entre os proibidos de entrar nos estádios.
(...)
-Ficarão presos até quando?
Jorge: Eles estão em prisão temporária. Ainda estão aqui no DHPP. Vão aonde o Distrito de prisão temporal nos permite mandar.
(...)
-Gaviões é vítima, já que só foram presos torcedores da Mancha?
Margareth: Foi a Gaviões quem fez emboscada na Mancha, não há vítima nessa história.
Vamos lá: Quem fez a emboscada? A Gaviões. Logo, quem é a vítima? Não tem. (?) Algo está errado, alguém precisa ser vítima da emboscada!
Bom, conforme disse o PM de uma das viaturas que acompanhavam o pessoal da torcida do Palmeiras, o pessoal da Mancha caminhava – imagino que sem armas e barras de ferro, já que demonstraria negligência da PM –, quando dois ônibus da Gaviões cruzaram pelo outro sentido da avenida - portanto, no caminho contrário do estádio - e fecharam a rua, mas, segundo a delegada, não há vítima na história.
-E porque prenderam só da Mancha?
Margareth: Já sabiam que deveriam sair sem escolta, não pediram escolta. Havia a própria escolta da torcida. Eles também são vingadores. Não estamos falando de vítimas, de nenhum Chapeuzinho Vermelho. Se precisar dão tiro, batem na Polícia. Houve um acompanhamento da Polícia Militar devido à multidão na Inajar. Eles mesmos fazem a escolta deles.
Ela falou, falou e não disse um crime que o pessoal tenha cometido. Não pedir escolta não é crime. O direito de ir e vir vale para todos, inclusive para o pessoal da Mancha.
“Se precisar dão tiro, batem na polícia”... ora bolas, eles deram tiro? Bateram na polícia? O “SE” não vale nada, para prender alguém é preciso um fato e, enquanto não mostrarem nada, vou continuar achando que as prisões foram injustas.
Mais uma vez: “Houve acompanhamento da Polícia Militar devido à multidão na Inajar”, a polícia acompanhou um monte de gente armada? Se eram muitos e armados, eram perigosos e colocavam a sociedade em risco, por que não foi pedido reforço? Negligência da PM? Como acredito na competência do PM que deu a entrevista e acho que ele não seria negligente, me parece que os palmeirenses não estavam armados...
-Como explicar lugares isolados e horários longe da hora do jogo?
Margareth: Estas brigas tem acontecido. Os crimes tem acontecido em outros lugares da cidade. Eles marcam brigas longe. Vão a um churrasco, bebem, ingerem drogas e depois vão para o jogo. Vão para brigar pouco antes do jogo.
Foram duas brigas seguidas na Inajar, depois que todas as torcidas apontaram o local como perigoso. Fala-se muito para encobrir a incompetência. Quanto ao papo do churrasco, vou fingir que não li.
-A Mancha é da Barra Funda, o que eles faziam na Inajar?
Margareth: Tem gente que é da Mancha e que mora na Zona Norte.
A polícia deixa a desejar, mas a imprensa... que perguntinha. A pergunta que faltou: DE ONDE SAÍRAM OS ÔNIBUS DA GAVIÕES??? TODO MUNDO SABE QUE NÃO VIERAM DA ZONA NORTE.
-Clubes tem algum papel na investigação?
Jorge: Se necessitarmos depoimentos de dirigentes, com certeza serão chamados. Nós, junto com o departamento de Inteligência estamos criando mecanismos para mapear de perto essas torcidas. Poderemos monitorar em tempo real as torcidas.
(...)
-Sabe quem foi o autor dos disparos?
Jorge: A Polícia não caminha com esse objetivo. Isso é uma questão de opinião pública. Toda a população de São Paulo está preocupada. Isso acontece nas portas de residências, comércios. Acredito que a população vai nos ajudar para solucionar esse horrendo crime. Se reúnem não para diversão, mas para se matar.
EU ENTENDI BEM?!?! COMO ASSIM A POLÍCIA NÃO CAMINHA COM ESSE OBJETIVO?! QUESTÃO DE OPINIÃO PÚBLICA?! A POPULAÇÃO VAI AJUDAR?!
Houve dois homicídios e a polícia não caminha atrás do(s) autor(es) dos disparos? Questão de opinião pública? Calar a opinião pública é o que fizeram ao prender o pessoal da torcida do Palmeiras, sem respeitar, inclusive, a dor de uma mãe que teve um filho assassinado.
-Isso faz com que o cidadão comum não vá nestes jogos?
Jorge: Não posso conclamar torcedores a não torcer para o seu time de coração. Têm bandidos infiltrados nessas torcidas, posso afirmar isso. São bandidos que se infiltram em organizadas.
Quem não vai aos estádios, não vai porque não gosta e tem preguiça. A violência é só uma das inúmeras desculpas. Mais uma pergunta idiota e clichê.
-Quais medidas serão tomadas?
Jorge: Chegou num ponto de intolerância de nós aceitarmos essa conduta. Estamos conversando com a polícia militar, ministério público. Vamos alicerçar o caminho para que isso não aconteça mais.
Nenhuma.
-Afeta na preparação para a Copa do Mundo?
Jorge: Mais uma razão. Se seremos palco de uma Copa do Mundo, nada mais juto que, agora, com esse episódio nós possamos somar esforços para que isso não ocorra mais.
Vai aparecer alguém para vender produtos de segurança... Caros jornalistas, quem frequenta estádio, organizado ou não, caga e anda para a Copa e a seleção.
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_Jornalista que sou, preciso dizer ainda que o sujeito que redigiu essa entrevista aí é tão despreparado quanto as autoridades em questão. Porque o sujeito, além de cometer erros grotescos de concordância, tem um problema sério também com a distinção entre iniciais em caixa alta ou baixa. Bizarro, e eu não vou perder meu tempo para corrigir isso.
_Notem ainda, por favor, que o uso do termo "despreparo" foi uma opção consciente (mas não muito satisfatória).